quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Puro interesse...


A estranheza do teu olhar sufoca-me, mas acalenta-me saber que tiro partido dele em segredo. Possuo-te por cada momento em que te envolvo nesta minha teia de enganos e de beijos venenosos com sabor de entrega. Recrio-te neste espaço que te concedi, como se te concedesse a chave da minha casa e deixasse a chave por dentro. Como se te prometesse deixar a porta encostada e te obrigasse a tocar à campainha para anunciar a tua presença no meu reduto.
Andamos há demasiado tempo nesta batalha incessante, neste silêncio cúmplice que te aconchega e que me serve... essa falta de palavras que tanto te protege como me sufoca. Desafiamo-nos mutuamente…nesse desafio desigual, que apenas de comum tem a posse embora nunca te permita possuir-me. Nunca o chegarás a saber. É como se me vestisse de nevoeiro e te permitisse guardar-me ainda que por breves e convenientes segundos. No entanto, é tão ténue a tua presença em mim, como se pintasses a aguarela e apenas tu não parecesses ver a palidez das cores.
O nosso campo de batalha está repleto dos laços de batalhas antigas… laços que entrelaçamos para que as nossas cicatrizes permaneçam… mas os meus laços são escorregadios nos teus, as cicatrizes que te infligi são mais profundas… apenas nos meus laços permanecem os nós cegos e os teus laços em mim têm demasiadas pontas soltas cuja fragilidade é gritante.


Pumpkin, Walter, Draco & Jane

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Da dança...


Da fusão do preto com o rubro da paixão. Com a mestria do pasó doble ouvi-te chegar com a paixão estampada nos olhos e o desejo tatuado no corpo. E de rubro te aproximas, sensual e envolvente, como se soubesses que sou teu. E eu olho-te nos olhos, altivo e desafiante, como se desconhecesse porque estavas ali.
A melodia escorre em gotas de suor banhando o chão que pisamos. Levantas a cabeça procurando o meu corpo. A minha mão encontra a tua e diminuímos a distância entre nós. Sentes o crescendo da intensidade com que te agarro contra mim? Com que mergulho no teu pescoço e te respiro ao ouvido, para logo em seguida te abandonar? Porque te abandono neste palco a rubi-negro tingido, insinuando-me a ti prostrada a meus pés enquanto te olho nos olhos.
E logo te levanto, trago-te a mim e conduzo-te sensualmente na sucessão rítmica do meu corpo, porque eu não sei estar sem ti. E tu segues-me nesta dança em que te entregas nas minhas mãos. Porque os meus passos são os teus passos e enquanto dois somos um só. O mesmo corpo. A mesma presença. Porque se nos subtraímos aos outros encontramo-nos cada vez mais um no outro.
Conduzo-te em passos largos que apenas tu consegues acompanhar. Somos sujeito e predicado do desejo e pedimos mais um do outro. Crescente intensidade da música que nos embala inebriados como se tudo fosse aqui e agora. É electrizante a tensão entre nós no permanente desafio de quem cai primeiro em tentação e beija o outro. Duas faces cada vez próximas que se reconhecem na geometria do sentir e do desafio.
A música está prestes a terminar, abandono-te no palco enquanto rodopias e eu aproximo-te de ti...sussurro no teu ouvido tudo o que tenho para te dizer e passeio os labios pela tua face. Lentamente com a certeza de quem conhece o destino, deposito na tua boca o beijo que só tu podes receber e retribuir.

Walter

sábado, 26 de janeiro de 2008

Partida...



Marquei o bilhete de ida para esse lugar que prometia a tua entrega. Parto, ingenuamente, na vasta esperança de te encontrar em mim, como se tu tivesses escolhido o mesmo lugar. Como se tu cumprisses as tuas promessas.
Indago cada carruagem que me pertence, onde me reconheço em cada compartimento e em cada janela. Perscruto cada carruagem por cada olhar minucioso, tomando-lhes o pulso a fim de encontrar vestígios teus, aqueles que juraste pertencer a ambos, como se tu e eu nos fundíssemos num só corpo. Algo que, involuntariamente, pudesses ter deixado e que te ligasse a mim. Afinal sempre pensei que estarias em mim como eu estou em ti. Chamar-me-ás ingénuo certamente, enquanto eu apelido de cegueira todas as vezes em que justifiquei o teu desencontro que julguei ser casual. Uma vez mais. Apenas e só uma vez mais.
Examino todos os pequenos cantos, agora despidos da tua presença e vestidos com as teias de aranha que pontuam a tua ausência. A tua ausência em mim. Tudo aquilo que agora me permites pertencer.
Além da ausência que pintaste em mim, desejas que te empurre para o poço do esquecimento, aquele cujas paredes são despidas de reentrâncias para que nada nos prenda, aquele a que me votaste. Esqueces-te, porém, que fui eu o primeiro a cair. Nunca me permitiste fazer o que já fizeste há muito. A tua viagem já estava marcada e eu nunca consegui comprar o bilhete de regresso.

Draco & Walter

Xeque-mate


Lentamente fomos movendo as peças. As brancas contra as pretas, os movimentos de defesa e as manobras de ataque, tudo jogámos nesse tabuleiro de vidro feito. Nesse tabuleiro onde nos dispusémos de lados opostos. Engraçado como não percebi que jogámos muito mais que uma partida. Jogámos também os momentos e as feridas antigas, bem como os sorrisos e as promessas de amanhã.
Primeiro movemos os peões em movimentos de reconhecimento e da busca das ressonâncias do que era meu em ti. Depois as jogadas mais arriscadas, o mostrar das fragilidades e o cometer dos erros. Espiámos os movimentos como estrategas que somos, espiámos os movimentos habituais e a melhor maneira de nos derrotar. Como se pudéssemos expiar as nossas falhas inflingindo a derrota no outro.
As peças foram sendo movidas e jogada por jogada o tabuleiro foi ficando vazio. Passo a passo aguardámos pelos erros do outro. No decorrer da partida, deixaste cair o tabuleiro, rolaram as peças que se dispersaram no espaço dos afectos e se misturaram com os resquícios de vidro que nos feriram. Não sei distinguir as minhas peças das tuas, não sei apontar o que ainda é teu em mim. Queria dizer-te que, apesar de tudo isto, o jogo terminou. Da minha boca, selarei a minha vitória com a supremacia de um Xeque-mate. Virar-te-ei as costas e irei procurar um adversário que não deixe o tabuleiro escorregar, propositadamente, entre as nossas mãos.

Walter

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Sótão...

No dia em que subiste as escadas e abriste a porta do sótão deparaste com a privacidade do silêncio e dos segredos. No dia em que subiste as escadas contra a minha vontade, deixaste a porta aberta de par em par e permitiste que os teus olhos se habituassem à escuridão e o teu corpo ao cheiro de humidade e de vidas passadas.
Nesse lugar que conheceste contra a minha vontade, violaste o baú antigo onde guardei os brinquedos estragados, as fotos onde nos retratámos a preto e branco e os momentos que nos pertenceram. Nesse lugar sentaste-te na velha poltrona de veludo vermelho ou que outrora fora vermelho e à média luz passaste os teus dedos pelas molduras e pelos pedaços de cristal do pingente que te ofereci e que fizeste questão de o partir na minha frente, num gesto de provocação declarada. Já de pé remexeste nas gavetas onde, um dia, marcaste a tua presença com o teu cheiro e presença e deixaste-as viradas no avesso das palavras e dos lugares onde os nossos corpos se tocaram.
No dia em que subiste as escadas, dobraram os sinos em agonias de bronze, acendeste velas para queimar o que sobrou de mim em ti e nesse teu auto-de-fé, revolveste o que sobrou do único espaço que não te concedi e, antes de sair, deixaste a tua boneca preferida sentada na poltrona bem de frente para a porta, para me recordar que aquele espaço nunca deixaria de ser teu.

Walter

Não vás...


Envolto no silêncio que a tua ausência acarreta… sozinho. Entre lençóis e cobertores procuro-te. Preciso de ti, mas não te encontro. Estendo a mão e por momentos consigo ter-te na minha mão. Beijo-te… Deixo os meus lábios tocarem os teus, num toque ténue que anuncia a partida de um de nós. Cruzamos olhares e uma vez mais as nossas mãos entrelaçam-se, num gesto de partilha e ao mesmo tempo de recusa… Não vás…


Draco

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Após ...


De olhares brilhantes e cabelos ao vento desfrutavam da paisagem, no entanto, a dúvida pairava nas suas cabeças… o que iria acontecer após este ou aquele momento?

Eram deveras felizes, só não o eram mais, por acreditarem que não conseguiriam lidar com os enigmas do futuro… Apesar de distante, este era vivido por antecipação, como algo adquirido à partida… não havia lugar para ilusões, surpresas ou mistérios… tudo era milimetricamente planeado com o intuito de não falhar, o futuro incerto amedrontava-os…

Toda a vida assim foi, de braços dados, caminhando pela vida, abriam portas à felicidade… sentiam-se seguros, amavam-se com paixão, com âmago… juntos eram tudo, perfeitos… sozinhos não eram ninguém. Mas, incessantemente questionando o passo a dar em seguida, não queriam dar um passo em falso que arruinasse tudo até aí conquistado. Porém, o cansaço apoderou-se e decidiram começar a viver na incerteza, na escuridão… que mal faria? Se se perdessem no caminho da vida, certamente encontrariam um percurso alternativo, porventura mais longo e doloroso… mas porque não arriscar? Assim foi… e repentinamente a vida atraiçoo-o… a força que lhe permitia viver, o ar que lhe permitia respirar, tinha fatalmente sucumbido, lenta mas derradeiramente. A traição pela vida era tal, que a dúvida deu lugar a uma certeza insípida e voraz… nunca tinha pensado nesse “após” tão triste e ensurdecedor… afinal tudo o que tinha de mais precioso era agora apenas uma ilusão… um “nada” de certezas! Não suportando esta crua realidade, cedeu perante a vida… atrás dela.

Pumpkin

domingo, 20 de janeiro de 2008

Pelas sombras da noite...

Permaneces nas sombras… A segurança para ti, ao contrário de mim, é a escuridão. Para ti, a luz é o teu maior receio… sempre acreditaste que ela te transformaria em cinzas… A tua vida está dominada pelas sombras da noite, onde nem a leve luz da lua consegue penetrar… Tens no teu corpo queimaduras… de quando te expuseste à luz do dia… de quando arriscaste deixar o que sempre pensaste como protector. Mas de todas as vezes voltaste para a noite… esperando que as feridas causadas pela luz sarassem. Mas nunca te ensinaram que a noite não tem o poder da cura… as feridas precisam de luz para poderem cicatrizar… Mas como podes saber? A tua vida sempre foi pontuada pela ausência da luz… E eu pertenço ao mundo que vês como uma ameaça a ti próprio… Visito-te no teu mundo feito de escuridão, dominado pelas sombras densas e obscuras, que parecem sussurrar perigos maiores à minha passagem… Cansei-me de ser cuidadosa e de me preocupar com a minha segurança. Cansei-me de ir ao teu encontro apenas nos dias em que a lua parece dar continuação ao dia…
Permaneces nos locais onde a escuridão é maior, para não me dares a conhecer as tuas verdadeiras marcas… aquelas que realmente te desfiguram… e essas não estão marcadas no teu corpo como as queimaduras…
As minhas visitas cada vez mais constantes à escuridão, fizeram-me ver que o que mais temes não é a luz… não é a tua transformação em cinzas… pois deixaste que conhecesse as tuas queimaduras… Temes cobrir a claridade do dia com a tua escuridão… Temes que a tua escuridão na luz do dia faça alastrar as tuas verdadeiras marcas… Temes que a escuridão já faça parte de ti… e temes confinar-me também a mim a permanecer nas sombras da escuridão…
Jane

Bilhete de Despedida...


Quero-te, por mais que me possas fazer sofrer, por mais que me invadas o pensamento incessantemente. Quero-te, mesmo que lágrimas chore por ti! Preciso de ti pelo que és em mim e pelo que eu espelho em ti. Falo contigo mesmo que não me respondas, mas tenho em mim o peso das tuas perguntas. Silencias-te em mim… Lembro-me de termos pisado o mesmo caminho. Seguia-te… A cada passo, a cada corrida. Percorremo-nos, possuímo-nos mutuamente…
Ainda hoje carrego nas mãos a tua presença, mas é a tua ausência que me pesa. Sigo em frente com a esperança que na próxima esquina … contigo me encontrarei. Sigo confiante que terei notícias tuas, proferidas pela tua boca. Essa boca que um dia pude dizer que me pertenceu. Espero por ti como nunca esperei por ninguém, porém anseio o teu fim, pois só a mim me pertences.
Draco e Sine

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Urso...


Refugio-me no meu urso de peluche. Um urso que me acompanha desde a minha infância e que conhece os atropelos por que já passei e a parte obscura que me pertence e que me tortura. Pretendo libertar-me desta nuvem negra que apenas me traz inseguranças e medos. Vasculho-me à procura de uma saída. À procura de uma porta para onde possa encaminhar toda a energia negativa que me encobre… Sem sucesso!
Sinto-me sem forças para superar o vendaval que sei que virá. Sozinho não consigo superá-lo. Socorro-me do meu único recurso… O meu urso que me olha fixamente, que prende o olhar no meu. Interpretações dúbias… Que me dizes?
Draco

Ponteiros...


O tempo para nós os dois sempre foi muito diferente neste relógio de corda com que ilustrámos o que, um dia, nos uniu. As horas que gerámos em conjunto na cumplicidade dos corpos e nos enganos dos olhares.
Estranho relógio este a que apenas eu dava corda e pelo qual somente eu me regia. Enquanto eu dizia que faltava tempo para estar contigo, tu disfarçavas o tempo que eu te retirava à hora inteira, cujos segundos me fugiam ou que ocultavas da minha presença.
O tempo entre nós sempre foi demasiadamente desigual e os nossos ponteiros apenas se acertavam à mercê da tua vontade. Para mim, apenas uma vez por hora sempre foi insuficiente. Tu sempre te recusaste a atrasar o relógio para nos encontrarmos mais que uma vez.
Walter

Porquê


Poderia fazer-te esta pergunta mil vezes que da tua parte não obteria qualquer resposta. Os nossos olhares cruzam-se e o silêncio é inevitável e marcante, no entanto, continuo sem perceber porque agimos como estranhos, quando na verdade somos apenas confidentes, ou poderei dizer amantes? Amantes sim … Não há outro nome para chamar à intimidade, loucura e paixão que nos une. Se assim é porque ages de modo tão indiferente? Juro que se pudesse te amarraria e torturaria até saber porquê! Afinal se sou parte de ti, se te pertenço merecia sabê-lo. Será pedir demais? Será que a nossa história é assim tão insignificante para ti? Ainda recordo os nossos primeiros momentos … os olhares fugidios, os olhos brilhantes, o coração a palpitar … hum … eras tão diferente! Será que fui eu que mudei sem me aperceber? O medo de te perder, a angustia e o desespero consomem-me e vão acabar comigo … porque não acabas com esta dor, esta chama acesa dentro que de mim que suplica por uma lufada de ar, para que se torne mais ténue. Diz-me porquê … Ao olhar para trás, vejo um só, como nos permitimos chegar a este ponto? Diz-me porquê … eu farei tudo por esquecer e tudo voltará a ser como antes … seremos apenas um só, de novo…! Diz-me por favor …

Pumpkin

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

A tua boneca de porcelana...

Recebeste-me por uma data especial… a tua boneca de porcelana… Há muito que me vinhas a pedir… Esse dia por que tanto ansiavas tinha chegado… Os teus olhos brilhavam quando olhavas para mim… o sorriso era de uma intensidade que parecia não caber em ti… Eu era tudo o que mais querias… Recebeste-me com as duas mãos bem abertas com medo de me deixares cair e me perderes segundos antes de me teres… Apertaste-me com muito força entre as tuas mãos para que não caísse… mas também com essa força tiveste medo de me quebrar… Logo assumiste que era frágil de mais para ti… que me tinhas de proteger… também de ti. Assim, colocaste-me numa das tuas prateleiras… aquela onde o teu olhar me pudesse alcançar de qualquer ponto do teu quarto. Continuava a ser tua… e apenas tua. Não deixavas ninguém chegar perto… muito menos tocar… E eu permanecia na tua prateleira… Muitas foram as vezes que me encontraste fora da prateleira em que me colocaste… foram todas tentativas minhas de te mostrar que não era tão frágil como assumias que eu era… Queria que me tocasses com as tuas mãos… que brincasses comigo… que mal poderia fazer ter um arranhão? Mas sentiste as minhas tentativas como falhas tuas na minha protecção… Não te perdoarias se alguma coisa me acontecesse… Prossegui com as minhas tentativas, à espera do dia em que sentisses que era seguro para ti me poderes realmente ter… O tempo foi passando… e eu permanecia no mesmo lugar… na mesma prateleira… onde o teu olhar continuava a chegar com a mesma intensidade… Mas algo começou a mudar… em mim. Comecei a sentir-me realmente a boneca de porcelana que desde o início vias… mas não queria a protecção que sempre me deste… Queria sentir o apertar das mãos sobre mim… queria ter arranhões… queria sentir o meu pequeno corpo a quebrar… porque por dentro sinto que apenas existe um monte de cacos… Vou fazendo por me encontrar cada vez mais próxima da ponta da prateleira… Seria bem mais fácil se por um descuido me desfizesse em estilhaços… conseguiria suportar a tua dor quando me encontrasses em cacos…
Um dia vais me encontrar no chão do teu quarto em pequenos cacos… impossíveis de voltar a colar… e aí saberás que foi a tua boneca de porcelana, aquela que fizeste de tudo para proteger… não soube proteger-se de si própria… que se transformou em pequenos fragmentos de porcelana… e dói tanto saber que não irei ser capaz de conseguir evitar o teu sofrimento…

Jane

sábado, 12 de janeiro de 2008

Partilha...

Plantei-te… pequena semente aconchegada na terra… Fui cuidando de ti diariamente e aos poucos foste crescendo, foram-te nascendo as folhas por que tanto ansiavas… foste-te moldando, aprendendo e partilhando! E eu sempre estive presente, sempre te acompanhei e assisti de perto aos teus sucessos…

Hoje… Arrancaram-te…

Contigo levaste pedaços de outras raízes entrelaçadas na tua… raízes das plantas que consideravas significativas e com as quais repartiste tantos momentos… Todas diferentes, é verdade, mas eram elas que te completavam… era com elas que te identificavas…
De meu, levaste todo um conjunto de sentimentos partilhados e de momentos que te fizeram crescer, os quais também eu não esqueço… levas igualmente a reciprocidade que caracterizava a nossa amizade e que nos permitiu confiar cegamente um no outro… Levas contigo algo que é meu…

Nenhuma das outras plantas te substitui… ocupavas um lugar de destaque, lugar esse que continuará por preencher, que espera o teu regresso…

Draco

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Claustrofobia...


Sufoco lentamente em gradações de verde e de mar. Sufoco nesta dor que me dilacera a razão, que me envolve em nevoeiros densos e na contagem dos segundos que se arrastam numa marcha de condenados.
Sufoco nesta falta que me fazes, nesta ausência pelo meu corpo, nesta distância que escolhi impor. Sufoco neste espaço fechado onde me vejo confinado em terra vulcânica e cinzas. Sufoco neste lugar. Não me ouves quando tento respirar e não consigo? Sufoco ao teu lado e tão longe de ti. Sufoco.
Sufoco sem uma ponte num território que não me pertence. Sufoco entre quatro paredes a que chamaste oportunidade e que eu prefiro chamar exílio.
Sufoco em cadências infinitesimais, em mãos desgarradas do corpo e em movimentos desenrraízados. Sufoco à tua frente. Sufoco tão somente. Sufoco e não me ouves, não me sentes, não me vês.
Walter

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

(Re)Conheço-me...


Contigo… Abri uma porta que havia fechado há anos… com cadeado! Insiro a chave na fechadura… Poucas foram as vezes que ela foi aberta e por isso encontrava-se perra, tendo sido difícil a conclusão da tarefa… Não desisti e, contigo do meu lado, consegui fazê-lo!

Cerraste os teus olhos nos meus, proferiste palavras silenciosas… palavras que me diziam tanto e, ao mesmo tempo, tão pouco! Voltaste a olhar-me à espera que entrasse… Não o fiz! Pelo contrário, esperei que fosses o primeiro a puxar a porta e a invadir um espaço que, julguei eu, não me pertencer…

Entraste e foste deixando para trás a porta ainda semi-aberta… Eu continuava do lado de fora! Ainda assim, foste vasculhando os livros que permaneciam imóveis numa prateleira arcaica… uma prateleira que parecia gasta de tanto ser usada, à qual, ironicamente, apenas recorri para depositar os livros que lias com tanto interesse…

Entrei… envolveste-me na leitura dos (meus) livros! Tal como tu, não consegui parar de ler… A escuridão que outrora caracterizou o espaço fechado e que me atemorizou foi, repentinamente, transformada num ambiente que me cercou sobre mim próprio… um ambiente que me proporcionou múltiplas aprendizagens…

A porta continua semi-aberta e ainda hoje, tanto eu como tu, vamos frequentando um espaço que me ajudaste a construir, o qual dispõe das respostas complexas que preciso, que tu precisas e quiçá… que ambos precisamos!
Draco

Ruínas...


Sobejo ao tempo que por nós passou, sobejo às construções que juntos erguemos com promessas acetinadas e encontros fortuitos. Sobejo ao adeus que bebes das minhas mãos e sorrio para iluminar as arcadas da saudade que trago comigo.
Levo-te aos palácios onde fomos soberanos, às salas escondidas e às masmorras onde deixei aprisionados todos os teus lugares. Reconheces estas paredes onde antes existíamos em retratos a óleo? Reconheces as cores que nos definiam? Reconheces estes tons de vermelho que dizias serem apenas meus? Os teus não deixarão de te pertencer.
Largo as tuas mãos sem nunca abandonar o teu olhar que me silencia e me desperta por dentro. Venda os olhos para não me veres desmoronar perante ti. Vejo-me cair pedra a pedra, lugar a lugar, momento a momento...desmorono-me somente e de mim apenas restam resquícios e ruínas. As minhas ruínas são demasiado inseguras para ti. As minhas ruínas que também te pertencem são de uma fragilidade gritante. Salva-te. Deixa-me proteger-te de mim.

Walter

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Refém...

Vou tornar-te meu refém… vou sequestrar-te e esconder-te do mundo… vais ficar sob os meus desejos e quereres… Já tenho tudo planeado e os teus hábitos e horários estudados… O dia aproximasse… e não percebes o que planeio com a minha cada vez maior proximidade de ti…
Vou surpreender-te por trás e delicadamente tapar-te os olhos… com as tuas mãos procuras as minhas, numa tentativa de adivinhares quem sou… quando na realidade pressentiste a minha presença muito antes de conseguir chegar a ti... Pronuncias o meu nome... Baixo as mãos, viro-me e contemplo-te e dou-te espaço para que vejas a minha face… a tua raptora. Sorris para mim… e nesse sorriso vejo que não precisava de te raptar… que me concederias todos os meus desejos… Mas levo o meu plano para a frente, pois quero muito mais do que sei que te conseguiria pedir… Sequestro-te. Vendo-te os olhos… com os meus olhos. Algemo-te… com as minhas mãos. Amordaço-te… com os meus lábios. Encontras-te em cativeiro… no meu cativeiro. Não apresentas-te qualquer resistência… Sei que me conseguirias dominar com a tua força… O meu plano não apresenta falhas… Com o passar do tempo, a mera ideia de uma fuga começa a dissipar-se da tua mente… Começas a colaborar comigo… retiro-te as algemas… e permito-te maior liberdade de movimentos… A venda e a mordaça essas não tenho intenções de retirar…
Não está nos meus planos pedir um resgate… nem tão pouco negociar a tua liberdade… Não te pretendo conceder a liberdade. Quero-te meu refém…

Jane

sábado, 5 de janeiro de 2008

Corda...


Amarro-te a mim… com uma corda dou um nó em cada um dos teus pulsos e, posteriormente, nos dois! Depois, faço o mesmo comigo… Sei que não sentes o mesmo que eu, sei que livremente não o farias e assim tenho a certeza que estás bem presa a mim…

Presenteio-te com o que de melhor tenho… Embora saiba que não sou para ti o que és para mim! Mais uma vez recorro à força para conseguir o que quero, mais uma vez consigo! Novamente sinto prazer, reiteradamente te vejo insatisfeita e com um olhar que apenas me transmite raiva, frustração e acima de tudo nojo, mais uma vez... Sei que se pudesses me repelias… Vejo-o, sinto-o (des)colorido na forma como me contemplas…

Entramos então num jogo do rato e do gato em que estou em vantagem! Esqueço-me de ti… Só penso em mim… és pouco mais do que alguns ossos articulados com os quais brinco, desmonto e volto a montar à minha maneira, construindo assim alguém que desejo, mas não tendo em consideração que tal como eu, também sentes!

É triste e deveras chocante como no fim… a corda acaba sempre por partir para o lado mais fraco!
Draco

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Teia de aranha...


Perdeste! Não tinhas escapatória à vista… E assim te viras contra todos os que sempre estiveram do teu lado! Todos aqueles que nunca te deixaram cair… aqueles em quem confiavas e que confiavam em ti cegamente… Hoje vejo que a palavra é mesmo essa… Cegamente… confiávamos em ti! Descontente com o desfecho, ainda consegues virar o jogo, ainda consegues tomar as rédeas de cada um de nós, manipulando-nos com a tua frieza e indiferença… Ris desalmadamente olhando-nos nos olhos… Um a um vais pisando… e repisas com intenção de magoar… ainda mais! Era tão fácil se para nós fosses apenas e simplesmente nada, mas não o és… Conheces exactamente quais as fraquezas de cada um de nós…

Aos poucos sentimos algo a ser construído… algo que constróis com toda a dedicação… algo que vai passando por nós e que cada vez mais nos aperta uns contra os outros, algo espesso e venenoso como tu… Será novidade?! Não creio…

Estamos armadilhados, mais uma vez! E a proximidade entre todos nós começa a ser maior… Conseguimos sentir o respirar uns dos outros, conseguimos ouvir-te no teu tricotar ensurdecer, conseguimos sentir o desespero, conseguimos ver a cor negra da tua crueldade…

Não há qualquer saída possível… Estamos presos, na teia de aranha que te ajudámos a tecer… aquela que apenas tiveste que arrematar…

Draco

Nunca...


Percorro-me por dentro e desfaço-me da tua presença em mim. Esgrimimos razões num duelo face a face...tu a defender a tua permanência e eu a tua despedida. Desenho novamente as fronteiras do mapa do meu corpo e retiro todos os lugares que te pertenciam. Prometo a mim mesmo que não te concederei um palmo que seja.
Esquivo-me à caça furtiva dos teus lábios que se alimentam do que te pertence em mim e disfarço-me no silêncio das ruas que um dia tiveram o teu nome. Persigo os teus passos e apago-os como se fossem pegadas desordenadas à beira do mar.
Percorro-me por dentro e esventro os momentos que assinámos no corpo um do outro. Percorro-me nas arcadas do teu olhar que se dilui no meu sangue e rasgo-te da minha vida. Faço autos-de-fé à tua passagem por mim e corto as amarras que nos prendem. Não mais o teu perfume no meu corpo. Não mais o teu olhar no meu. Nunca mais.

Walter

Puzzle...

Não sei que peça sou no teu puzzle… desconheço a minha posição… as minhas formas sei-as de cor… mas não sei com que peças me conjugas e que padrão assumo para ti… sinto que mudo de forma e de posição… que andas indeciso quanto ao correcto local que a peça que sou deve ocupar… sinto que pertenço ao grupo das peças do “não sei”. Assim… por momentos, tenho a coragem e abandono o teu jogo… torno-me numa peça esquecida… tento esquecer que faço parte de um puzzle que ainda se encontra em construção… o teu. Abandono o teu jogo… ainda que por um dia… pois sei que retornarei ao teu puzzle. Sinto-me vitoriosa… ainda que por curtos momentos, pois sinto que a minha peça não precisa de encaixar no teu puzzle… que não tenho de pertencer a ele… Acreditei que não me procurarias para mais uma tentativa de encaixe no teu incerto puzzle durante este dia. E a verdade é que não me procuraste… encontravas-te ausente. Mas o meu triunfo é efémero… Vi o dia converte-se em minutos… e rapidamente retornei ao teu puzzle apesar da tua ausência, pois as outras peças do teu puzzle relembravam-me a tua existência a todo o momento… mas essas já conhecem a sua posição nesse teu puzzle… não me falavam da minha posição nele… não me falavam das tuas tentativas de (in)decisão… falavam-me de ti. E quando tentava ser uma peça perdida, esquecida… eis que as outras peças do teu puzzle causam o meu regresso… minutos… foram apenas minutos que senti que poderia não ter que pertencer ao teu puzzle… foram apenas minutos. A construção do teu puzzle está de tal forma controlada, que as outras peças assumem funções de ti na tua ausência… ainda que não o saibas.
Jane