quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Ruínas...


Sobejo ao tempo que por nós passou, sobejo às construções que juntos erguemos com promessas acetinadas e encontros fortuitos. Sobejo ao adeus que bebes das minhas mãos e sorrio para iluminar as arcadas da saudade que trago comigo.
Levo-te aos palácios onde fomos soberanos, às salas escondidas e às masmorras onde deixei aprisionados todos os teus lugares. Reconheces estas paredes onde antes existíamos em retratos a óleo? Reconheces as cores que nos definiam? Reconheces estes tons de vermelho que dizias serem apenas meus? Os teus não deixarão de te pertencer.
Largo as tuas mãos sem nunca abandonar o teu olhar que me silencia e me desperta por dentro. Venda os olhos para não me veres desmoronar perante ti. Vejo-me cair pedra a pedra, lugar a lugar, momento a momento...desmorono-me somente e de mim apenas restam resquícios e ruínas. As minhas ruínas são demasiado inseguras para ti. As minhas ruínas que também te pertencem são de uma fragilidade gritante. Salva-te. Deixa-me proteger-te de mim.

Walter

3 comentários:

Esquissos disse...

Acredita que as tuas próprias ruínas não são tão inseguras como dizes... Vou mais longe e digo mesmo que além de te protegerem a ti, acabam por nos proteger também a nós!

Adorei o texto,

Draco

Amor amor disse...

Reconheço as cores,
tuas e minhas,
e nossas...
Construo novas cores,
reconstruo nosso muro.
No lugar de cada pedra que cai,
que tu chamas ruína,
coloco minhas mãos:
reponho as pedras,
tuas e minhas,
e nossas...
Não te desejo em ruínas,
a nós desejo fusão
e reconstrução:
nossos rostos pintados à óleo nos muros,
pelos pincéis da eternidade,
e a moldura das folhas avermelhadas do tempo.
As figuras, as tuas e minhas,
e nossas...

Foi a melhor forma que encontrei pra dizer o que achei do seu texto! Lindas palavras, Walter, como sempre, encantador!!!

Beijos de cristal!!!

Esquissos disse...

Como pode se salvar de umas ruínas que também ajudou a construir, que também lhe pertencem?! Pedes para que se salve? Para que se proteger? Não permitirá chegar ao desmoronamento... pois acabaria por desmoronar juntamente contigo. A construção não foi conjunta? Nas paredes não existiam em retratos a óleo? Que faria com eles, ficaria sem paredes onde os colocar? Ficariam apenas por metades? De que serviriam? Também eles entrariam em processo de ruina... precisam das tuas paredes para existirem...da tua parte dos retratos a óleo...
Quado o teu processo de desmoronamento se iniciar, ainda que penses/queiras que o outro não o veja, também o dele se terá iniciado!
Por isso, há que iniciar o processo de recuperação dos locais que dizes ser apenas os teus que se encontram em desmoronamento...

Bjinhos
Jane

ps- o texto está lindo.