segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Da dança...


Da fusão do preto com o rubro da paixão. Com a mestria do pasó doble ouvi-te chegar com a paixão estampada nos olhos e o desejo tatuado no corpo. E de rubro te aproximas, sensual e envolvente, como se soubesses que sou teu. E eu olho-te nos olhos, altivo e desafiante, como se desconhecesse porque estavas ali.
A melodia escorre em gotas de suor banhando o chão que pisamos. Levantas a cabeça procurando o meu corpo. A minha mão encontra a tua e diminuímos a distância entre nós. Sentes o crescendo da intensidade com que te agarro contra mim? Com que mergulho no teu pescoço e te respiro ao ouvido, para logo em seguida te abandonar? Porque te abandono neste palco a rubi-negro tingido, insinuando-me a ti prostrada a meus pés enquanto te olho nos olhos.
E logo te levanto, trago-te a mim e conduzo-te sensualmente na sucessão rítmica do meu corpo, porque eu não sei estar sem ti. E tu segues-me nesta dança em que te entregas nas minhas mãos. Porque os meus passos são os teus passos e enquanto dois somos um só. O mesmo corpo. A mesma presença. Porque se nos subtraímos aos outros encontramo-nos cada vez mais um no outro.
Conduzo-te em passos largos que apenas tu consegues acompanhar. Somos sujeito e predicado do desejo e pedimos mais um do outro. Crescente intensidade da música que nos embala inebriados como se tudo fosse aqui e agora. É electrizante a tensão entre nós no permanente desafio de quem cai primeiro em tentação e beija o outro. Duas faces cada vez próximas que se reconhecem na geometria do sentir e do desafio.
A música está prestes a terminar, abandono-te no palco enquanto rodopias e eu aproximo-te de ti...sussurro no teu ouvido tudo o que tenho para te dizer e passeio os labios pela tua face. Lentamente com a certeza de quem conhece o destino, deposito na tua boca o beijo que só tu podes receber e retribuir.

Walter

5 comentários:

Esquissos disse...

Uma ideia que também nos tinha surgido, e para a qual já tinhamos escrito um texto... Chegou a tua vez de te vingares da Jane, hehehe!
O texto está lindo.. e se em muitos outros acho que consegues brincar com as palavras de um modo soberbo, acredita que este texto superou.

Abração

Draco

Amor amor disse...

Desejo tatuado no corpo, sujeito e predicado do desejo, dentre outras passagens do texto....uuuhhh, altas temperaturas, hahaha!!! :o>

Com tanta paixão que esse texto traz, me lembrei de um tango muito querido para mim, chamado "Canción para Matilde". A música é de Astor Piazzola. É um tango para ser dançado com muita sutileza e, ao mesmo tempo, intensidade, para ser entendido pelos de coração poeta; permita-me colocar aqui trechos:

Las olas van
El viento esparce azul y olor
Yo con amor, te amo con amor
(...)
Así se van los días
Así los devoramos en fruta y flor
Eres mía y te amo
Y con amor, te amo con amor
(...)
Tú y yo floreceremos
Hasta la última flor
Hasta la última hora
Y el último temblor
(...)
Porque tú y yo amor mío
Con amor nos amamos con amor

Quando puder, escute a música, e vai ver que a melodia, a harmonia, enfim, toda a sensação musical combina muito com o seu texto, apesar de ser tango, e não paso doble. :o)

Deixo aqui uma rosa vermelha cristalizada. @-`-

Maria Laura disse...

A dança, muito sensual, da paixão. Quente.

mar disse...

A ideia de uma dança num eco em redor parece-me um terno acto surreal, quase virado nas loucuras de um ser amedrontado, amo a tua maneira de escrever e bem o sei, tinha saudades e voltei.

Um beijo em ti*

Esquissos disse...

Uma pessoa já se esforça para ter imaginação para escrever...e vem o senhor e pronto... escreve um texto destes! Agora vingaste-te de mim :P hah
Mas vinganças destas podem vir mais vezes... Mas reforço e eu continuo a dizer: quero ser sempre tua amiga, nunca tua inimiga. Tu és uma ruindade do pior...heheh

Já agora o nosso texto era sobre o tango :P

Bjinhos
Jane