sábado, 26 de janeiro de 2008

Xeque-mate


Lentamente fomos movendo as peças. As brancas contra as pretas, os movimentos de defesa e as manobras de ataque, tudo jogámos nesse tabuleiro de vidro feito. Nesse tabuleiro onde nos dispusémos de lados opostos. Engraçado como não percebi que jogámos muito mais que uma partida. Jogámos também os momentos e as feridas antigas, bem como os sorrisos e as promessas de amanhã.
Primeiro movemos os peões em movimentos de reconhecimento e da busca das ressonâncias do que era meu em ti. Depois as jogadas mais arriscadas, o mostrar das fragilidades e o cometer dos erros. Espiámos os movimentos como estrategas que somos, espiámos os movimentos habituais e a melhor maneira de nos derrotar. Como se pudéssemos expiar as nossas falhas inflingindo a derrota no outro.
As peças foram sendo movidas e jogada por jogada o tabuleiro foi ficando vazio. Passo a passo aguardámos pelos erros do outro. No decorrer da partida, deixaste cair o tabuleiro, rolaram as peças que se dispersaram no espaço dos afectos e se misturaram com os resquícios de vidro que nos feriram. Não sei distinguir as minhas peças das tuas, não sei apontar o que ainda é teu em mim. Queria dizer-te que, apesar de tudo isto, o jogo terminou. Da minha boca, selarei a minha vitória com a supremacia de um Xeque-mate. Virar-te-ei as costas e irei procurar um adversário que não deixe o tabuleiro escorregar, propositadamente, entre as nossas mãos.

Walter

2 comentários:

Esquissos disse...

o texto por si só é magnífico... A imagem enriquece-o pela forma como transmite tão bem o que pretendes demonstrar..

Abração

Draco

Amor amor disse...

Em jogos como esse, fica até difícil dizer quem é o vencedor, já que as peças estão tão misturadas, a estratégia de um fica misturada à do outro. Por outro lado, há realmente um vencedor, é aquele que supera a jogada desonesta do outro com um jogo aberto e superior.
Walter, que texto lindo!!! Fiquei curiosa: onde vc arranjou essa imagem tão legal?
Pétalas de cristal, e um ótimo fim de semana!