Há muito que os meus feitiços te prendem e nunca soubeste precisar há quanto tempo este desafio começou. Nunca te disse que encontrei os velhos livros de feitiçaria e que os li às escondidas nem tão pouco te disse que parti a tua varinha e que sabotei todos os teus pequenos truques. Sempre ouvi dizer que no amor e na guerra vale tudo e tu sabias que eu nunca gostei de perder. E deixa-me dizer-te que desta vez não será diferente.
Tenciono fazer-te tropeçar nos degraus de escuridão e de enganos que intencionalmente deixarei no teu caminho e esconder-me-ei nas passagens secretas das minhas intenções. Vou sorrir-te enquanto te prendo mais e mais e vou vestir-me de acaso quando invadir os teus lugares e descobrires a minha presença em ti. Acendo velas e esconjuro magia negra entre incensos e espectros para te envolver e enredar na minha teia traiçoeira e aconchegante, onde disfarço as minhas verdadeiras intenções de sorrisos. Afinal eu sempre fui aquele que aprendeu a mover-se por entre sombras e fingimentos e não penses que vou retroceder só porque já estás derrotada. Não vou descansar enquanto não tomar de assalto a tua respiração, o teu olhar e a tua vida para mim.
Intencionalmente, vou esquecer-me de te dizer que sei de cor os livros de feitiços que leste e que fui eu que os deixei ocasionalmente à tua mercê. Vou deixar as páginas marcadas onde armadilho e comprometo todas as tuas tentativas de contra-atacar. Vou sorrir e fingir que desconheço que o jogo não é justo à partida e se me acusares eu apenas digo que, ao contrário de ti, eu sei escolher as minhas armas, porém, apenas te vais aperceber tarde demais do meu domínio, como se fosses uma delicada borboleta enredada na minha teia, mas prometo que não vou prolongar demasiado o teu sofrimento… ou talvez prolongue para te ver debater-te inutilmente.
Aceito o teu desafio, claro que aceito. Vais ser a primeira a tombar, os meus feitiços são demasiado fortes para que os possas suportar. Apenas tu não o consegues ver. Esta guerra já tem vencedor. É uma questão de tempo para fazer ti minha refém.
Walter
Socorro-me dos meus dons para impedir que os teus se sobreponham aos meus. Recorro aos feitiços para conseguir permanecer em competição contigo… Ambos jogamos um jogo sujo… Ambos tentamos saquear as fórmulas dos novos feitiços um do outro, com medo que os antídotos nos sejam desconhecidos. Deixámos de ser cuidadosos e recorremos à magia a cada presença e ausência de nós… Relegamos tudo o resto e elegemos os feitiços como a única forma de sobrevivência, para a minha existência em ti e a tua em mim. A nossa obsessão começa a deixar transparecer as minhas mais ocultas intenções, aquelas que temo que tal como as fórmulas dos meus feitiços sejam descobertas e muito dos mistérios que disfarcei na envolvência dos sorrisos e afectos começam agora a dissiparem-se por entre as brumas cerradas que teimava que me envolvessem.
Comecei a alterar as fórmulas sem que tu percebesses e dei por terminado o jogo para mim. Os teus feitiços estavam a tomar efeito em mim, pareciam entranharem-se nos locais de mais difícil acesso. Deixei de conseguir controlar o efeito em mim e os meus começaram a tornar-se desfalecidos de mais em ti. De alguma forma foste conseguindo os antídotos para os feitiços que te lançava e foste ganhando espaço nas minhas brumas, que já a tua passagem se dissipavam, deixando o caminho até mim límpido de mais.
Comecei a perceber que os teus feitiços se estavam a tornar mais perigosos e desconhecidos, que as brumas que te envolviam te acompanhavam e se tornavam mais cerradas e negras, a tua aura andava envolta em mistério… nem mesmo o meu dom da visão conseguia afastar um pequeno véu que fosse, com a esperança de te antever. Deixei de te falar dos meus feitiços e procurava-te apenas para falar dos teus… precisava encontrar o antídoto do encantamento que me lançaste… precisava de me libertar de ti.
Jane