quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Máscara...

Este ano entrei no salão com uma fantasia diferente, tão diferente que nem tu me reconheceste. Quando os meus olhos te descobriram estavas sentada no sofá, acariciando o rebordo de um copo e distribuindo sorrisos venenosos e carícias a todos os que te rodeavam. Foi muito fácil reconhecer neles a minha própria ingenuidade e os fios com que os enredavas nessa tua teia de aproximações.
Observei como o teu vestido preto acentuava o teu corpo e como os teus lábios pintados de vermelho espelhavam a tua pose predadora. Afinal, esse era o teu melhor disfarce, aquele que vestias o ano inteiro na sua sucessão de conquistas e de dias e em que eu fui apenas mais um dia a juntar ao teu calendário e mais uma presença a juntar ao teu corpo.
Delicadamente escolheste um parceiro, ofereceste-lhe a mão para que te convidasse para dançar e ainda fingiste recusar o primeiro convite, apenas para o iludires nesse teu jogo de afectos predatórios. Tu nunca foste a presa e apenas agora o percebo.
Rodopiaram no salão com todos os olhares postos sobre ti e escondeste o teu sorriso no peito do teu parceiro para que o teu egocentrismo fosse invisível aos olhos dos outros. Apenas eu o consegui notar porque apenas eu conhecia o que essa tua máscara ocultava.
Enquanto o teu corpo se insinuava e fingia procurar abrigo no teu parceiro, prolongavas a tua presença em todos aqueles que deixavas partilhar o teu momento. Sempre gostaste de plateia para te admirar. Aliás, alimentavas-te dela embora nunca o tivesses reconhecido perante ninguém.
No meio da dança, os teus olhos encontraram os meus e paraste como se eu revelasse a tua nudez, como se eu fosse uma nódoa no teu vestido imaculadamente limpo, como se eu fosse o improviso que pudesse arruinar a tua encenação. Paraste enquanto o teu olhar encontrou o meu e no teu olhar eu vi súplica. O teu parceiro questionou-te num sussurro porque motivo paraste de dançar e tu apenas respondeste quando me viste voltar-te as costas e sair diluído nas sombras. O teu papel é tão difícil de representar e a tua máscara é pesada demais, é incómoda demais. Saio vitorioso por saber o quanto me temes, só não te vou permitir saber que jamais voltarei a mascarar-me de ti.

Walter

5 comentários:

Amor amor disse...

Ai, que raiva dessa mulher!!! :os
Bem, o que eu ia dizer é que o gostinho dessa vitória foi bom. Já que não havia outra saída, pelo menos saber que a presença dele a fazia sentir descoberta, vulnerável, já era bom demais!!!

Tenho que arranjar novos adjetivos para usar aqui pq ótimo, excelente, fenomenal já não dá mais, está acima disso!

Beijos doces cristalizados!!!

Esquissos disse...

Máscaras... o que revelam?! Sem palavras... simplesmente um dos teus melhores textos... ou melhor, um dos que eu mais gostei! O jogo entre a máscara e a pessoa que a usa está brutal... como podemos ser ingénuos ao ponto de acreditar em tudo o que os nossos olhos vêm? Eles só vêm o que querem... já deveríamos saber! É bom quando eles nos mostram mais, quando desvendam o que realmente as pessoas são, isso sim é poder!
o texto está... tu percebes-me! :)
Beijos

Pumpkin

Esquissos disse...

Engraçado como me consigo identificar tanto neste teu post... Pessoas que se fazem de vítimas e que recorrem a uma máscara que apenas engana quem ainda não conhece o jogo malévolo que as move! Demonstras muito bem esta situação em três momentos caracterizados pela troca de olhares que vão ocorrendo..

Abração

Draco

Esquissos disse...

Por vezes mesmo através das pesadas máscaras que os rostos suportam conseguimos reconhecer os traços dos rostos que essas mesmas máscaras ocultam...sem necessitarmos de retirar as máscaras... mas por quanto tempo conseguirá suportar o peso de uma máscara que no final já nada esconde?

Que posso eu dizer dos teus texto? Não sei o que comentar, porque acho sempre que as minhas palavras ficam muito aquém do que realmente sei que os teus textos são...

Bjs
Jane

Quidam disse...

não sei se por eu já ter entrado num salão assim e conhecer alguém que usa essa máscara se não... mas adorei o texto. sublime.