Ainda me recordo de ter visto que a janela estava aberta e hoje tenho a certeza de que tu também a viste. Estava aberta, mas não o suficiente para me perturbar. Nunca o suficiente para te perturbar. E assim seguimos em indiferença, afinal para nós era apenas e só uma janela.
Neste quarto que um dia foi nosso ainda se respira luxúria e desejos carnais, ainda te respiro quando fecho os olhos e te vejo chegar a mim. Ainda oiço os teus passos sobre o meu silêncio, ainda sinto o teu toque quando a noite tinha laivos de entrega e nos prendia em partilhas de cigarros, a nossa breve reconciliação com a finitude do acto em si e com a crueza dos nossos modos de sentir.
Nenhum de nós confessou quem deixou a janela aberta. Talvez tenha sido eu. Talvez tenhas sido tu. O teu lado da cama ainda sente a falta do teu corpo e eu neste momento ainda procuro encontrar o teu cheiro e o som das cores com que pintavas o encontro dos nossos corpos. Ainda procuro o teu cheiro no meu corpo, aquele aroma de proximidade e de suor com que me impregnavas enquanto fomos um só corpo, enquanto te olhava nos olhos e bebia o néctar da comunhão pelos teus lábios. E hoje respiro apenas o cheiro que a tua ausência provoca em mim. Esse cheiro que se mistura com o ar saturado de cigarros solitários.
Afinal a janela esteve aberta tempo demais para nós os dois e nenhum de nós pareceu reparar que enquanto esteve aberta tudo o que um dia foi nosso se desfez. O nós deixou de existir e deu lugar a um eu e a um tu diferenciados. E não houve surpresa, apenas constatações. Cruzaste a ombreira da porta, voltaste-te para mim e disseste-me para eu fechar a janela.
Neste quarto que um dia foi nosso ainda se respira luxúria e desejos carnais, ainda te respiro quando fecho os olhos e te vejo chegar a mim. Ainda oiço os teus passos sobre o meu silêncio, ainda sinto o teu toque quando a noite tinha laivos de entrega e nos prendia em partilhas de cigarros, a nossa breve reconciliação com a finitude do acto em si e com a crueza dos nossos modos de sentir.
Nenhum de nós confessou quem deixou a janela aberta. Talvez tenha sido eu. Talvez tenhas sido tu. O teu lado da cama ainda sente a falta do teu corpo e eu neste momento ainda procuro encontrar o teu cheiro e o som das cores com que pintavas o encontro dos nossos corpos. Ainda procuro o teu cheiro no meu corpo, aquele aroma de proximidade e de suor com que me impregnavas enquanto fomos um só corpo, enquanto te olhava nos olhos e bebia o néctar da comunhão pelos teus lábios. E hoje respiro apenas o cheiro que a tua ausência provoca em mim. Esse cheiro que se mistura com o ar saturado de cigarros solitários.
Afinal a janela esteve aberta tempo demais para nós os dois e nenhum de nós pareceu reparar que enquanto esteve aberta tudo o que um dia foi nosso se desfez. O nós deixou de existir e deu lugar a um eu e a um tu diferenciados. E não houve surpresa, apenas constatações. Cruzaste a ombreira da porta, voltaste-te para mim e disseste-me para eu fechar a janela.
Walter
4 comentários:
Presumo que além de teres fechado a janela, tenhas igualmente fechado a porta. O texto está muito bom! Tinhas razão!! É lindo!
Realmente não interessa quem abriu a janela mas quem não a fechou. Foi precisamente este lapso (intencional ou não) que desmoronou o que de melhor tinham... O calor que fundiu os dois corpos num só, aos poucos, foi dando lugar ao frio que os dissociou. Quem sabe não era precisamente isso que um deles queria! Fica a dúvida...
Abração,
Draco
Porque se preocupar com fechar a janela quando nada mais havia para poder ser destruído? Afinal já nao existia um "nós"...
Porque não deixar a janela aberta? Não para um retornar, mas para que os vestigios do que restou da destruição do "nós" possam desaparecer... e ao mesmo tempo a janela deixará espaço à luz...
Gostei muito do texto
Bjs
Jane
Digo o mesmo: belo blog descobri aqui hoje ;) Parabéns aos autores. SENTE-SE tudo o que vocês escrevem!
Beijo ***
O perigo desses textos é a sinestesia, deixa tudo tão mais real!!! Já passei por esse lapso, e fico com a mesma dúvida do Draco: 'quem sabe não era precisamente isso que um queria'? Bem, acho que nunca vou saber.
De qualquer forma, é um prazer ler sobre sentimentos, sensações, reflexões que pensamos não ter tradução...
Beijos e pétalas de cristal!!! :o*
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