sexta-feira, 21 de março de 2008

Vela...


Acendeste o pavio da vela que me caracterizava. Contemplaste a chama que, aos poucos, se formava e que pedia algo teu. Agiste como se tivesses controlo sobre a vela que, lentamente, ardia aos teus olhos. Mais uma vez, Fitaste a chama. Vi a forma dos teus lábios desenhada a vermelho à medida que proferias as melhores palavras que conhecias. Fizeste promessas. Aquelas que sabias, de antemão, que não irias cumprir. Mas ainda assim, com um ar convicto, fizeste-me acreditar que, desta vez, seria diferente. Sempre foste perita nisso.
Os meus sinais em ti eram insignificantes: as gotas de cera que escorriam, a chama frágil que ameaçava apagar, entre tantos outros. Senti o que pretendias. A tua escuridão sempre se sobrepôs à luz que provinha da chama que ardia em mim. Antes que pudesses acabar comigo, apaguei a luz que marcava o que pensei ser a minha passagem por ti.


Draco

terça-feira, 18 de março de 2008

Desejo final...


Anunciaste a tua chegada com um toque de leveza. Tudo á tua volta se intensificou. Todos os olhares se centravam em ti, como se à tua passagem a tua essência despertasse nos demais, um turbilhão de emoções até então eclipsadas. Parecias desfilar sobre a mais sumptuosa passadeira vermelha, o teu rosto bailava sob as sombras das tochas de fogo que iluminavam a festa. Exibias-te pelo espaço ocupado pelos sons de um violino com uma subtileza tal que julguei seres outra pessoa. O teu corpo parecia assumir os acordes gemidos pelo violino, flutuavas por entre as tulipas e orquídeas do jardim, e fazias-te acompanhar por aquele teu sorriso ousado. Porém, à medida que os olhares te iam despindo, a tua inocência era remetida para o copo que ostentava a marca dos teus lábios. Lábios esses que imploravam por um pequeno toque meu, que reacendesse as labaredas de uma paixão não esquecida. Fazias despertar em mim um desejo insaciável de posse… que jurei que jamais o permitiria. Queria sentir o teu corpo que me enche e preenche, apenas uma última vez. A tua presença era marcada pelo encantamento que um dia me prendeu. Pensei ter-me libertado das algemas do passado mas a tua subtileza fingida não me permitia. Os meus pensamentos pertenciam-te… os teus lábios sob os meus, o toque das tuas mãos no meu peito, o teu corpo deslizando sob o meu, os sons do teu prazer a ecoarem no meu ser… o êxtase dos corpos suplicando mais e mais. Voltaste-te para mim e o teu olhar defronta-se com o meu. No teu olhar espelha-se o desejo que preferia não ver. Iniciamos um duelo, onde tudo em nosso redor se assume como pano de fundo de uma tela de um colorido de rubra paixão. O teu olhar assumiu as cores do puro desejo, revestindo-se de um vermelho ardente que ansiava por um beijo impetuoso. Dirigias-me um olhar penetrante, sem pudor, entrelaçando-me numa teia deveras perigosa mas tentadora, submetendo-me ao fogo que não consegui que se transformasse em cinzas face à tua presença. Presenteias-me com um sorriso perverso nos lábios que pede desesperadamente que me junte a ti, numa perseguição perturbante em busca de sentires e da nudez arrebatada dos corpos!


Jane e Pumpkin

sábado, 15 de março de 2008

A cama...


Acordei. Senti que algo de estranho havia sucedido. Não identifiquei de imediato! Ainda na cama, na escuridão que me embalou, tento escutar. Sinto que falta qualquer coisa, mas não sei o quê. Na tentativa de decifrar o silêncio ensurdecedor que, de repente, se fez ouvir, exploro o que me rodeia. Percebo, então, que cometi um erro. Não devia ter procurado a presença, mas a ausência de ti… em mim! Acendo a luz. O lugar que tenho ao meu lado está vazio. O lugar que ocupavas, não mais te pertence!

Draco

quarta-feira, 12 de março de 2008

Baloiço...


Eu corria e tu corrias atrás de mim. Eu pisava as folhas caídas e os teus chamamentos enquanto corria desenfreadamente e tu, tu seguias sempre no meu encalço, jamais foste capaz de seguir sozinho. Jamais caminhaste por um caminho só teu.
Sentei-me no baloiço e deixei-me embalar, numa dança que me afastava e logo me trazia para ti. Tu empurravas-me e pedias que parasse de baloiçar porque podia ser perigoso. Insistias para que saísse e eu sorria fingindo que não te ouvia. Pedia-te que empurrasses com mais força porque eu sempre quis muito mais do que isto. Começou a chover e apenas eu fiquei junto do baloiço.
Baloicei neste movimento, a metafóra de mais uma relação. Só então percebi. Para ti era sempre rápido demais. Contigo não saía do mesmo lugar, balançando entre a tua resignação confortável e a minha estagnação sufocante. Contigo era sempre seguro demais.

Walter

quinta-feira, 6 de março de 2008

Laço...


No início uni os nossos lábios com fitas de seda e de beijar, uni os nossos passos com as fitas dos caminhos partilhados e com a certeza das direcções. A minha boca na tua e o teu perfume que se passeava pelo teu corpo e me atraía em certezas concêntricas, como se de uma pedra atirada à agua se tratasse. A distância entre nós que aumentava a cada novo círculo formado.
O teu respirar suave sobre mim enquanto me abraçavas, os contornos da tua boca no meu pescoço quando me beijavas em esboços suaves a carvão. O vestido comprido que te ia desnudando os ombros e que te acariciava enquanto te despia suavemente, bem como o toque da seda pela tua pele em suaves pinceladas de aguarelas de sentimentos. Demasiado diluídas como o encontro das nossas roupas entre passos e beijos dispostos pelo chão, sempre que nos fazíamos reféns dos nossos corpos enlaçados.
Entre nós sempre houve reflexos de pontas soltas e indícios de nós cegos. Fios desfiados e laços imperfeitos como notas desgarradas da melodia. Como cordas partidas nos violinos. Nunca perdeste tempo a apertar os fios e a rematar as pontas. Tu preferias ir soltando os laços que nos uniam suavemente enquanto disfarçavas as tuas pequenas sabotagens. Devolve-me os laços com que te presenteei, tu certamente não quererás os laços que um dia te sufocaram.

Walter