quarta-feira, 30 de abril de 2008

Nudez...


Despe as roupas que te cobrem a pele que escondes. Despe-as e sente a nudez da tua pele, aquela pele que toco com os dedos e os lábios lentamente. Despe essa pele e sente a minha na tua. Rasga a tua pele, amor. Rasga-a que eu cuido do teu corpo, protejo e cuido como uma flor delicada que renasce sempre que semeada pelas minhas mãos.
Walter

sábado, 12 de abril de 2008

Tango...um pensamento que se dança



O meu olhar elegeu-te entre os demais num embalo da melodia de um tango antigo escutado entre paredes de vermelho velho.
Desafias-me com os teus passos sedutores. Também eu quero conduzir, sentir que tenho o poder de controlar o teu corpo … mas hoje és tu que comandas e escolhes sentido e direcção que tão bem conheces e que me prendem a ti. Entras no jogo de cintura que a música pede e rodeias-me num ritmo tão apaixonado que me é impossível resistir-te. Os teus olhos fitam-me, o teu corpo deseja-me. É impossível negares, de que adiantaria? É por demais evidente. Deslizas sobre mim, o teu corpo insinua-se de modo provocante, erótico até. Esta dança há muito que deixou de ser só isso … queres-me por inteiro. Nada mais posso fazer, se não apenas ceder à tua vontade mais íntima … vontades que se sobrepõe à minha. O meu corpo obedece-te e entrega-se ao teu de uma forma cega. Denuncio-te mais do que aquilo que gostaria que soubesses. Conheces-me, assim, entre passos decididos e uma entrega definida pelo toque. Antevemos o final da música e a cada nota que se sucede vamos possuindo passos pouco explorados um do outro a um ritmo alucinante. A música termina e com ela o fim do nosso encontro … sem que tenhamos aproximado os nossos lábios.


Jane, Draco & Pumpkin

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Ausência...


Para a despedida uma garrafa de whisky velho, um copo e duas pedras de gelo. Mais um copo, depois outro e ainda mais outro bebidos de um trago só. Puro malte que me escorre na garganta e que me queima por dentro.
Sou eu e a negação da tua falta que se vai diluíndo em partes desiguais de gelo e de destilação alcoólica. Sou eu contigo em mim, enquanto me dirijo à janela para ver se vais chegar.
A cabeça a andar à roda e as recordações do que deixaste desaparecem, desvanecem-se e recriam-se sem terem deixado de existir. O teu maço de cigarros meio vazio sobre a mesa, o livro aberto e a tua ausência no sofá que vai diminuíndo a cada copo que passa. Agora já sem gelo, a bebida quer-se pura, assim como as emoções que ainda me fazes sentir.
O telefone que não toca e é ao seu silêncio autista que brindo com ironia. O copo que escorrega das mãos, o mesmo copo que se parte aos meus pés. Amanhã limparei o chão e vou varrer os vidros estilhaçados, assim como espero que regresses amanhã.
Acendo um dos teus cigarros, a nicotina funde-se com o whisky sorvido directamente da garrafa e que me escorre pelo queixo. Mais uma hora que se extingue, sento-me nas escadas em frente à porta, deixo a garrafa descansar ao meu lado e espero por ti. Não chegas, esvazio a garrafa e tu não passas duma vaga memória.
Deito-me no sofá para te ouvir chegar porque não quero que me vejas nas escadas. Falta-me o discernimento e faltas-me tu. Amanhã não virás e no teu lugar estarão duas dores. A dor de cabeça que não suprime a dor provocada pela tua ausência.

Walter

terça-feira, 1 de abril de 2008

Hábito...


Estendeu a mão à espera que esta fosse agarrada outra vez, como tantas vezes fora. Estendeu a mão porque ainda sentia a sua falta. Num qualquer momento disse-lhe que tinha demasiada sede do seu corpo, da sua presença e da sua vida. Nunca chegou a perceber que aquilo que sentia não era a falta da outra pessoa, mas apenas de si.
Um dia chegou a casa com a sede que apenas a rotina conseguia saciar. Sempre os mesmos beijos vazios, sempre a resignação da mesma carícia. Chamou o seu nome como todos os dias fazia. Apenas o eco da sua voz lhe respondeu rasgando as paredes até chegar a si.
No lugar de um beijo, um bilhete de despedida. Uma condenação. Um grito de libertação. Um não mais do mesmo.
Não houve choro. Não tinha porque haver uma vez que tudo o mais era hábito. Amachucou o papel, como se amachucasse o que passaram juntos e abriu uma garrafa do seu melhor vinho. Retirou dois copos, seguidamente arrumou um deles porque existem hábitos difíceis de quebrar. Um trago e um pensamento, enquanto a ponta dos seus dedos acariciava o rebordo do copo. Um cigarro fugaz e fechou a porta atrás de si. Pela primeira vez sentiu-se inteiro.

Walter