sexta-feira, 26 de setembro de 2008

reviravolta...


Calmamente escuto uma melodia que nada tem de inócua. Aumento o volume para me envolver na entoação que lentamente me invade. Fecho os olhos e cantarolo. Sou avassalado por um filme em que cada cena parece preencher as palavras que a música solta. Entendo, então, os compassos que lentamente ouço, os quais me mostram o que, nas entrelinhas, me tentas dizer. Mergulho num mar de lágrimas. Gota a gota, deslizando pela minha face, morrem nos meus lábios, quando me beijas ardentemente. Choro compulsivamente. Esta seria mais uma tentativa tua de replicar o jogo que tanto estimas. Também esta seria mais uma oportunidade para que fosse o elo mais fraco. Seria… se entretanto não tivesse baixado o volume. Se não tivesse limpo as lágrimas que teimaram em cair. Se não te tivesse apagado da vida que pretendo continuar…sozinho!


Draco

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Do corpo...


Chegava como se este espaço fosse seu, como se o conhecesse desde sempre. Afinal conhecia todas as portas desta casa. Conhecia o bater da chuva nas vidraças e os lugares onde o silêncio era insidioso e se fundia e escondia em vícios solitários.
Dirigia os seus passos à sala à procura do fogo que lhe alimentava o corpo e encontrava a lareira apagada. No lugar do fogo encontrava cinza e mesmo assim estendia as mãos para se aquecer. Acendia velas e incensos e no desencontro das sombras deixava-se enfeitiçar pelos aromas inebriantes do desejo. A sala já era sua, geometricamente sua, e não lhe bastou. Procurava mais dele. Sempre procurou mais…demais.
Aproximou-se das janelas e abriu-as de par em par para que ele visse a dança da lua. E como se ela se apropriasse das palavras, disse que o amor dele era como as fases da lua. E que só ele não percebia isso. Disse-lhe que ele foi quarto minguante de amor enquanto se subtraía à paixão e ele, desconcertado pela veracidade do que se negava a reconhecer, recusou segui-la pelo corredor.
Ela desafiava todas as defesas dele e aproximou-se passo a passo olhando-o nos olhos. Depositou na boca dele o sabor das suas palavras com o seu travo a canela e ele destilava a entrega gota a gota apenas por ela, enquanto o seu amor se erguia em lua nova do sentir. Ela concedeu-lhe a sua mão, convidando-o a conhecer novas fases da lua e ele seguiu-a sem olhar para trás. Foram quarto crescente de desejo e chegaram à derradeira divisão. O quarto. E ele sempre soube que ela acabaria por lá chegar
Cruzaram a porta e o tempo e o espaço foram eles. Nada mais que eles, dois corpos desnudados que se reconheciam em luas cheias de fogo e mar. Pertenciam-se mutuamente e naquele instante eram suor, beijos e prazer. O odor dos seus corpos fundia-se sempre que se entregavam à busca do outro e ambos sabiam que já tinham esperado tempo demais.
Ela aconchegou-se no peito dele e num murmúrio disse-lhe “o teu corpo é a tua casa e eu já entrei nela”. Ele afagou-lhe os cabelos, beijou-a lentamente e olhando-a nos olhos respondeu-lhe “Tu sempre pertenceste a este lugar”.

Walter